sábado, 21 de junho de 2008

Morte


Bem que filho do Norte,
Não sou bravo nem forte.
Mas, como a vida amei,
Quero te amar, ó morte
- Minha morte, pesar
Que não te escolherei.

Do amor tive na vida
Quanto amor pode dar:
Amei, não sendo amado,
E sendo amado, amei.
Morte, em ti quero agora
Esquecer que na vida
Não fiz senão amar.

Sei que é grande maçada
Morrer, mas morrerei
- Quando fores servida -
Sem maiores saudades
Desta madrasta vida,
Que todavia amei.

(Canção para a minha morte - Manuel Bandeira) - devo confessar que procurei o texto pela foto

3 comentários:

Nat disse...

Eu amo, do Drummond:

MOINHO

A mó da morte mói
o milho teu dourado
e deixa no farelo
um ai deteriorado.

Mói a mó, mói a morte
em seu moer parado
o que era trigo eterno
e nem sequer semeado.

Da morte a mó que mói
não mói todo o legado.
Fica, moendo a mó,
o vento do passado.

Unknown disse...

Antes de mais, desculpe-me nat por trazer à tona Augusto dos Anjos depois de Drummond, mas não resisti.

A obsessão do sangue

Acordou, vendo sangue... — Horrível! O osso
Frontal em fogo... Ia talvez morrer,
Disse. olhou-se no espelho. Era tão moço,
Ah! certamente não podia ser!

Levantou-se. E eis que viu, antes do almoço,
Na mão dos açougueiros, a escorrer
Fita rubra de sangue muito grosso,
A carne que ele havia de comer!

No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão ...

E amou, com um berro bárbaro de gozo,
o monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!

Pax disse...

Vou rebater as duas de vocês, lindas, com uma declaração do Itamar Assumpção, vulgo Beleléu, depois do enterro do Paulo Leminski que ele não foi:

"alô Paulo, é Beleléu
não fui ao enterro teu
também não irás no meu
estamos quites, adeus"