quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Neste silêncio...


Olhando nos meus, teus olhos gritavam:
diz, diz que me amas, diz da paixão
que sentes por mim...

Tremendo em silêncio, teus lábios diziam:
beija-me, deixa-me beber teu amor,
passear no teu corpo, fazer-te gozar...

Teus seios eretos, ansiando diziam:
somos teus, para sempre,
suga-nos e bebe nosso sumo de amor!

E à noite, teu corpo tremendo, pedia:
vem e me toma, guarda-te e morre
dentro de mim!

Teu sexo úmido, ansiando, chorava:
vem, te prometo prazeres sem fim,
vem meu amor e renasce em mim!

E eu, surdo da vida e surdo do amor,
não ouvia os teus gritos teu desejo por mim...

E quando o tédio infame, afinal tomou conta
e o descaso doído nos fez companhia,
afinal nossa hora chegou...

E sem gritos nem choros,
sem amor e sem ódios,
sem eu o saber,
levastes minha vida.

E hoje, no imenso vazio,
de um silêncio sem fim,
eu ouço teus gritos
que antes não ouvia...

Artur Ferreira
No site Poesia Erótica

Foto Luiz Fernando Rodrigues Leite

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A cópula


Depois de lhe beijar meticulosamente
o cu, que é uma pimenta, a boceta, que é um doce,
o moço exibe à moça a bagagem que trouxe:
colhões e membro, um membro enorme e tungescente.

Ela toma-o na boca e morde-o. Incontinente,
não pode ele conter-se, e, de um jacto, esporrou-se.
Não desarmou porém. Antes, mais rijo, alteou-se
e fodeu-a. Ela geme, ela peida, ela sente

Que vai morrer: -- "Eu morro! Ai, não queres que eu morra?!"
Grita para o rapaz que aceso como um diabo,
arde em cio e tesão na amorosa gangorra.

E titilando-a nos mamilos e no rabo
(que depois irá ter sua ração de porra),
lhe enfia cona adentro o mangalho até o cabo.

Manuel Bandeira

Foto: Almas a Nu de Marta Ferreira

sugestão do soneto do meu amigo Antonio

O que se passa na cama


(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)

É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrando o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pênis.

Ai, cama canção de cuna,
dorme, menina, nanana,
dorme onça suçuarana,
dorme cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima... O pênis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.

E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda úmidos de sêmen,
estes segredos de cama.

Carlos Drummond de Andrade

Foto: Ricardo Soares

domingo, 25 de janeiro de 2009

Fatias


lá ia eu
toda exposta
àquele olhar
de garfo e faca
vendo
a mesa posta
minhas postas em fatias
ouvindo dos convivas
piadas macarrônicas

Alice Ruiz
do livro [dois em um] Editora Iluminuras

Foto: Nick Giles

domingo, 18 de janeiro de 2009

Corponauta


Como se tuas mãos não fossem duas
E o meu corpo apenas o universo
Nos teus olhos flutuam outras luas
E a tua pele permeia os meus versos

Fosse a tua bunda o meu descanso
E o meu falo te servisse de guarida
O guerreiro, de voraz, iria manso
Se renderia, entregaria a própria vida

Que se espera, então, de fêmea e macho
Senão o orgasmo profundo e infiel
De amar mais o outro que a si?

Se entre tuas coxas eu me encaixo
É o teu gozo, purgatório, inferno e céu
Imortalidade que podemos possuir

Goulart Gomes
http://cseabra.utopia.com.br/poesia/

Foto: Tom Ruddock MC Nudes

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Deixa a mão...


Deixa a mão
caminhar
perder o alento
até onde se não respira.

Deixa a mão
errar
sobre a cintura
apenas conivente
com nácar da língua.

Só um grito desde o chão
pode fulminá-la.

A morte
não é um segredo
não é em nós um jardim de areia.

De noite
no silêncio baço dos espelhos
um homem
pode trazer a morte pela mão.

Vou ensinar-te como se reconhece
repara
é ainda um rapaz
não acaba de crescer
nos ombros
a luz
desatada
a fulva
lucidez dos flancos.

A boca sobre a boca nevava.

Eugénio de Andrade em http://cseabra.utopia.com.br/

Foto: mc-nudes - pescado do blog do Pedro Doria

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

As aves têm penas


Por falar em observar aves, achei umas almas penadas...

Foto: Daniel Oliveira

As saíras são assanhadas?




Este é um post de divulgação de um movimento que considero excelente. Observação de Aves é uma forma de preservar e conservar o Meio Ambiente. Guto Carvalho, empresário, fotógrafo, comunicador, é idealizador e produtor executivo do Avistar, um encontro de observadores de aves, que fará sua quarta edição em 2009. E tem um concurso de fotos que é aberto ao público em geral, não precisa ser profissional.

Uma curiosidade: O Brasil tem 1850 aves catalogadas e pouquíssimos observadores, a ordem de grandeza não passa de alguns milhares. Os EUA têm 800 aves catalogadas e dezenas de milhões de observadores. O turismo de observação de aves é fantástico, conheço de perto a atividade. Acorda-se de madrugada, os melhores horários são de manhã bem cedo e ao entardecer. Mais ouve-se que observa-se visualmente, muitos gravam, outros tiram fotos, o silêncio é essencial. Não conheço outra atividade turística que afete menos o Meio Ambiente que esta. Fica a sugestão.

A foto acima foi vencedora do ano passado e é do Cristiano Rodrigues, MG. Não é uma Saíra - do gênero Tangara e que tem 19 espécies pelo Brasil, mas uma Cigana - Opisthocomus hoazin. O resultado final de 2008 pode ser visto aqui.

Umbigo


a gente é só amigo
e de repente
eu bem podia
ser essa mosca
perto do teu umbigo

Alice Ruiz - no novo livro [dois em um] lançado no final de 2008

Foto: Vadim Rigin