segunda-feira, 7 de julho de 2008

Satânia

Nua, de pé, solto o cabelo às costas,

Sorri na alcova perfumada e quente,
Pela janela, como um rio enorme
De áureas ondas tranqüilas e impalpáveis, 
Profusamente a luz do meio-dia
Entra e se espalha palpitante e viva. 
Entra, parte-se em feixes rutilantes, 
Aviva as cores das tapeçarias,
Doura os espelhos e os cristais inflama. 
Depois, tremendo, como a arfar, desliza 
Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve, 
Como uma vaga preguiçosa e lenta, 
Vem lhe beijar a pequenina ponta 
Do pequenino pé macio e branco.
Sobe... cinge-lhe a perna longamente; 
Sobe... – e que volta sensual descreve 
Para abranger todo o quadril! – prossegue. 
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura, 
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios, 
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo 
Da axila, acende-lhe o coral da boca,
E antes de se ir perder na escura noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Pára confusa, a palpitar, diante
Da luz mais bela dos seus grandes olhos.

(trecho de Satânia de Castro Alves)

4 comentários:

Anônimo disse...

muito interessante, Pax. não sabia que o Castro Alves tinha poesias eróticas. você conhece outras do gênero?

Pax disse...

Sim, mais umas. Olhe no site do Carlos Seabra cseabra.utopia.com.br de onde tiro várias que posto aqui. Abraços !

Anônimo disse...

fui lá e encontrei muita coisa boa, Pax.

obrigado e outro abraço, de bagual para gaudério!

Pax disse...

O prazer é meu zig !

Abração !