sábado, 25 de outubro de 2008

A Bunda


A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda.

Carlos Drummond de Andrade

Foto: António Louro
http://olhares.aeiou.pt/silvana_k/foto2253166.html

5 comentários:

Unknown disse...

É sério que o autor é mesmo o Carlos Drummond de Andrade? Não seria mais um daqueles apócrifos? Mas que seja, é bem legal!

El Torero disse...

Abundante, aconchegante...e como diria Jorge Ben, deliciante.

Nat disse...

KCT, esse é definitivamente do Drummond. Mesmo!!! É um dos mais famosos do mestre.

Bjs

Unknown disse...

Valeu Nat pelo esclarecimento. ;0)

Anônimo disse...

esse teu blog é muito bom